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Trinta anos sem Foucault - um elogio inicial

Tomei contato com Foucault na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, graças a um grande número de pessoas: Heliana Conde, Ana Jacó, Regina Benevides, Bernardo Jablonski, Sid, Hildberto Martins, entre outros tantos.

Logo que cheguei no curso de Psicologia da UERJ, oriundo de uma faculdade privada chamada FAHUPE, assisti um seminário sobre Análise Institucional com o próprio René Lourau. Depois, inscrevi-me em uma matéria eletiva chamada "Leituras de Foucault", ministrada por Heliana Conde.

O pensamento de Foucault me incomodou muito (e me incomoda ainda). Sempre é provocador, para mim, pois, no fundo, no fundo, creio que ele é orientado por uma pergunta simples: por que não ?  Por que não pensar nessa direção, somente naquela ? 

Obviamente que a aceitação dessa simples pergunta como válida, fragiliza qualquer crença que se tenha de forma mais arraigada. Implica, também, a possibilidade de se ser relativamente criativo em relação aos métodos, às teorizações. Afinal, como Deleuze e Guatarri já nos apontaram: filosofar nada mais é do que criar conceitos. Nada mais, nada menos.

Foucault morreu em 25/06/1984. Eu estava na metade do primeiro ano do segundo grau, no Colégio Estadual Olavo Bilac, em São Cristovão. Foucault talvez tenha sido a primeira pessoa pública, intelectual mundialmente conhecido, que morreu em função da infeção pelo HIV, na época, HLTV.

Parte de uma geração de militantes franceses que negavam o Marxismo (ou a faceta institucionalizada do Marxismo, via Leste Europeu, Partidos Comunistas e Universidades). Aliás, no caso de Foucault, Marx e o "Marxismo", era problema dos Marxistas, não dele.

Viveu o famoso Maio de 1968, as lutas pela libertação da África do jugo Europeu, inclusive Francês: ser um anti-imperialista no interior de um Império, não deve ser algo trivial. Viveu as esperanças e desesperanças envolvendo Praga e Hungria. 

Ele era, penso eu, filho de seu tempo: buscando alternativas fora das moras intelectuais e militantes que haviam produzido tantas coisas terríveis, tanto à direita, quanto à esquerda.

Creio que esta busca continuamos a fazê-la até hoje. Seria muitíssimo interessante se Foucault tivesse visto a queda do domínio do aparelho Stanilista no Leste e ver como o capitalismo (com traços feudais de servidão e escravismo) pode ser muito bem "pilotado" por um partido "Comunista".

Talvez, na verdade, na verdade, trate-se mais da arte de governar o Estado e menos do Estado em si (se é que uma coisa em si mesma existe). Por quais caminhos provadores Foucault nos convidaria a segui-lo, caso não nos tivesse deixado tão precocemente ?

Estou retomando a leitura de Foucault com muita intensidade, principalmente do Foucault professor do Colege de France, graças ao Doutoramento em geografia: território, arte de governar, Estado, etc. 

Assim, na medida das possibilidades, este é um primeiro elogio meu a Michel Foucault.




Eis um documentário sobre Foucault, segundo ele mesmo, legendado em Portugues:

Michel Foucault Por Ele Mesmo - (Michel Foucault Par Lui Même)


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