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Escolha e custo de oportunidade


Há um sem número de palavras, de argumentos, de imagens, que nos ajudam a refletir sobre nós mesmos, sobre o que fazemos e sobre aquilo que ou consideramos como irrelevante, ou que de tão relevante, parece algo incomensurável, inatingível.
Buchanan foi uma das pessoas que tiveram muita importância por pensar de forma simples e precisa. Simplicidade não significa irrelevância. De um modo geral, a sofisticação desvia a atenção do que importa. Ele foi uma das pessoas mais importantes do que se chama escola da “Escolha Pública".   Uma corrente muito importante, que pode ser incluída no contexto do neo-institucionalismo e que tem seu foco de ação a explicitação de regras para a economia. Pensamento que justifica, por exemplo, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Outra idéia fundamental é a de custo não como preço, como moeda, mas como o custo que tenho por ter escolhido fazer A e não fazer B, C, D, E, F, etc. Se faço uma coisa, deixo de fazer outra. Então, o custo de fazer A é não fazer B.
Bom, minhas palavras são desnecessárias, creio eu. Abaixo, um pouco de Buchanan. Extratos retirados do livro Custo e Escolha. Uma indagação em teoriaeconômica , que deveria ser lido por todos que pensam ou agem ao redor dessa organização chamada Estado e de seu núcleo dirigente, o governo (déspota benevolente para uns, malevolente para outros, mas um déspota).
 James Buchanan recebendo o prêmio nobel de economia.

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“Há pelo menos três possíveis fontes na minha crítica à economia política ortodoxa. Primeiro, fui influenciado por Frank Knight e por F. A. Hayek em suas insistentes lembranças de que o problema da ordem social não é científico, no sentido habitual. Segundo, fui muito influenciado pela advertência de Knut Wicksell de que os economistas deveriam parar de agir como se o governo fosse um déspota benevolente. Terceiro, desde muito cedo no meu pensamento rejeito a promoção que o economista ortodoxo faz da eficiência alocativa como um padrão de avaliação independente.”
Buchanan, J. Better than Plowing and Other Personal Essays, (Chicago: The University of Chicago Press).
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Prefácio a “Custo e Escolha”, de James M. Buchanan
Estamos diante de uma escolha. Devemos decidir agora se leremos ou não este Prefácio, se leremos outra coisa, se pensaremos em silêncio, ou talvez se escreveremos algo para nós mesmos. O valor que atribuímos à mais atraente dessas várias opções é o custo que deveremos pagar se optarmos pela leitura deste Prefácio agora.
Este valor é e deve permanecer inteiramente especulativo; ele representa o que pensamos agora em relação ao que a outra oportunidade poderia oferecer. Após termos nos decidido pela leitura deste Prefácio, qualquer chance de compreender a opção e, por conseguinte, medir o seu valor terá se desvanecido para sempre.
Apenas durante o momento ou o instante da escolha é que o custo pode ser capaz de modificar o comportamento. Se tivéssemos decidido há alguns instantes que a nossa avaliação da outra opção excedia àquela que seria esperada da leitura deste Prefácio, teríamos então perdido a prosa trivial deste economista. Contudo, se a tivéssemos rejeitado desde o princípio, jamais poderíamos saber o que teríamos perdido. Os benefícios de que ora nos asseguramos através da leitura do presente Prefácio não são comparáveis com os custos que teríamos de arcar em decorrência da escolha da opção mais atraente. Esses benefícios, se cabíveis, existem e podem ser avaliados após o fato. Os custos que podem ter influência sobre o comportamento não existem; nunca são concebidos; não podem ser mensurados após o fato.
Não obstante, ao concluirmos a leitura deste Prefácio, algo terá acontecido, algo capaz de ser avaliado. Podemos pensar sobre o que faríamos com esses minutos e, caso desejável, poderíamos traduzir esses "poderiam ter sido" que nunca foram em termos de valores. Um observador do nosso comportamento, conhecendo a escolha com a qual nos deparamos, poderia efetuar uma estimativa objetiva dos minutos do nosso tempo de expediente que a leitura deste Prefácio exigiria. Após havermos feito nossa decisão, esse observador poderia olhar o relógio e verificar as suas estimativas objetivamente. Se ele conhecesse o valor de remuneração das outras opções, teria condições de atribuir algum valor a esse tempo de expediente, um valor objetivo útil para inúmeras finalidades de comparação. Evidentemente, o observador não seria capaz de estimar com precisão o valor que poderíamos atribuir às nossas próprias oportunidades perdidas antes da escolha ou depois dela.
Na argumentação ordinária, denominamos ambas as avaliações, as nossas próprias e as do observador, de "custos". O observador externo do nosso comportamento poderia afirmar que a leitura do presente Prefácio nos custou ou terá custado X minutos, que ele estima valer Y dólares. Via de regra, diríamos que a mesma atividade "nos custará X minutos se dormirmos" ou "terá custado X minutos se tivéssemos estado dormindo". O que se deve observar é que esses vários usos da palavra "custo" são categoricamente diferentes. O hábito lingüístico dita uma mesma palavra para várias coisas diferentes. Não é nenhuma surpresa a enorme confusão, especialmente entre os economistas, que se faz em relação à palavra custo.
Já discorri o suficiente sobre o sumário do argumento principal deste livro. As idéias centrais são simples e não tenho pretensão alguma de alcançar a sofisticação analítica. Minha hipótese de trabalho é de que muitos economistas mergulham profundamente na complexidade da análise enquanto deixam de perceber determinados pontos da lógica econômica elementar. As explanações teóricas podem não ser pertinentes a determinadas aplicações, e aqueles que estão ansiosos por prosseguir na busca da cura dos males da humanidade poderão escarnecer-se da minha insistência em relação à purificação metodológica. O seu ceticismo poderá aumentar ao reconhecer que, em qualquer confronto preliminar, as suas próprias opiniões equiparam-se às aqui desenvolvidas. Há poucos economistas modernos que deixariam de aceitar a definição elementar do custo de oportunidade. Os textos convencionais são férteis em afirmações supostamente bem entendidas.
Sugiro que haja uma diferença significativa entre estas definições de segunda ordem e aquelas implícitas na análise que segue. O custo de oportunidade tende a ser definido de modo aceitável, entretanto não permite a introdução da lógica do conceito para informar as aplicações analíticas subseqüentes. Tenho como meta utilizar a teoria do custo de oportunidade para demonstrar as diferenças metodológicas básicas que, de um modo geral, passam despercebidas e para mostrar que o uso constante dessa teoria traz mais luz a importantes áreas de divergência sobre assuntos relacionados com políticas. Somente no setor de finanças públicas, os debates sobre incidência de impostos, a capitalização tributária, o fardo da dívida pública e o papel da análise de custo-benefício poderão ser resolvidos em parte, se os protagonistas aceitarem os conceitos comuns de custo. O estado indesejável em que se encontra a economia do bem-estar ao menos poderá ser entendido e apreciado mais adequadamente, se as confusões incorporadas ao custo forem reveladas. O caloroso e extensamente latente debate anterior sobre a possibilidade do cálculo socialista talvez ressurja com um brilho diferente. Algo pode ser dito sobre importantes tópicos da atualidade, como o serviço militar e a criminalidade.
Nenhuma destas ou quaisquer outras aplicações de políticas será discutida exaustivamente. Discussões desse tipo exigiriam no mínimo um livro de igual porte ao do presente volume para desatar os nós górdios que as ambigüidades da teoria do custo produziram.
Meu objetivo secundário é investigar a evolução das idéias na concepção do custo. Principalmente em virtude de os modernos economistas demonstrarem uma relativa negligência em relação à matéria. Desejo salientar a contribuição oriunda da tradição da London School of Economics, tradição esta ainda não amplamente reconhecida, e à qual nem mesmo os seus próprios membros lhe dão o devido crédito.
A escola austríaca contemporânea poderá sugerir especialmente, com alguma razão, que a teoria desenvolvida seja rotulada adequadamente como "austríaca". Sem dúvida alguma, a concepção inglesa vale-se de uma importante fonte austríaca. Contudo, ao ler os antigos austríacos juntamente com as contribuições feitas por Londres, convenço-me de que foram adicionados atributos singularmente característicos e de que toda a construção alcançou sua viabilidade operacional apenas em Londres. Para ilustrar este ponto, muito do que me parece ser da teoria ortodoxa do custo pode ser atribuído diretamente às suas fontes austríacas.
Segundo minhas leituras e interpretações, Wicksteed merece crédito por fornecer uma fonte da tradição da escola inglesa distintamente não-ortodoxa, que é igual ou talvez mais importante que a de Viena. Os seguidores americanos de H.J. Davenport, cujas idéias pessoais em relação ao custo eram altamente perceptivas, não geraram uma tradição que possa ser comparável à de Londres.
As principais fontes da moderna tradição de Londres estão representadas nos estudos de Robbins, Hayek e Coase, realizados durante a década de 30. Essas tradições são seguidas insistentemente pelos escritos duramente negligenciados de Thirlby, que se estendem de 1946 a 1960. Na década de 50 foram publicados estudos adicionais por Jack Wiseman sobre essa tradição. Todavia, esses materiais publicados são aparentemente os únicos resíduos visíveis atualmente de um extenso diálogo que talvez tenha sido parte integrante do ensino de economia na escola inglesa por um período de aproximadamente trinta anos.
O capítulo 1 esboça a história doutrinal da teoria do custo antes de 1930. O capítulo 2 discute as origens e o desenvolvimento da teoria de Londres e o capítulo 3 apresenta sucintamente a teoria do custo de oportunidade em dois contextos analíticos contrastantes.
Os capítulos restantes do livro são devotados a suas aplicações. O capítulo 4 examina a teoria do custo nas finanças públicas, aplicação que despertou meu interesse pessoal pela necessidade de elucidação teórica. O capítulo 5 usa a lógica do custo de oportunidade como uma forma de reconsideração das normas de bem-estar de Pigou.
O capítulo 6, o mais importante e o mais difícil do livro, demonstra a importância da teoria básica do custo em todo o reino do processo decisório não relacionado com o mercado.


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