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As eleições brasileiras 2014.Muitas mudanças à frente.

O diário Folha de São Paulo de hoje publicou em versão on-line uma manchete que é um excelente indicador do processo social que fundamenta a eleição 2014. Ela dizia que "nenhuma cidade brasileira deu a Aécio votação maior que em Miami": http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1538863-nenhuma-cidade-brasileira-deu-a-aecio-votacao-maior-que-em-miami.shtml

Do escrito na manchete há uma informação implícita que demonstra ou uma constatação de fato, ou um desejo, dos editores da matéria: Miami é uma cidade brasileira. A língua portuguesa permite deduzir isto do que está escrito.


Por outro lado, a candidata reeleita, Dilma Roussef, teve sua maior votação em um município do estado do Maranhão, chamado Belágua. Este município tem uma população estimada de 7.191 pessoas que habitam um território de 499.426 Km2. Em 2010, seu PIB per capita a preços correntes foi de R$ 8.954,81. Medida esta que não diz muito, apenas que se o total produzido no município fosse dividido igualmente entre seus membros, o valor seria o indicado. Mais informações sobre este e todos os demais municípios brasileiros (não norte-americanos), podem ser obtidas em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=210173


A distribuição no primeiro turno das eleições presidenciais já havia demonstrado uma clara divisão social: os com maior renda optaram pelos azuis e os com menor renda optaram por pelos vermelhos. Sendo que os azuis têm grande entrada onde a renda origina-se ou do mercado financeiro ou da indústria, seja ela a fordista, seja a agrícola e pecuária. Talvez isso ajude a entender Miami, tanto em relação aos resultados eleitorais, quanto ao desejo de Miami ser uma cidade brasileira (ou melhor seria que as cidades brasileiras fossem como Miami ?). No segundo turno, esta divisão geopolítica manteve-se, mas sem a mediação da "terceira via".

De um ponto-de-vista quase-Marxista, há uma clara divisão de classes nestas eleições: onde as políticas de redistribuição de renda, de socialização de custos de políticas de saúde e educação, etc, são explicitamente apoiadas pela maioria da sociedade. A outra porção, mesmo que não tenha total consciência, nega esta dinâmica redistributiva. Digo que não há total consciência em torno do apoio explícito a um projeto liberal de sociedade, pois muitos votaram nos azuis para mudar "o que está aí". Só que "o que está aí", inclui vermelhos, azuis e todos que jogam o jogo. A pergunta é: jogar o jogo para quê, ou para quem (quens) ?

Ao que parece, as lideranças políticas relacionadas aos setores financistas e mais dinâmicos da indústria nacional e da internacional aqui instalados, percebem que há uma alternativa viável para o gerenciamento do Estado. Uma alternativa que venha de seu próprio grupo social, não de outro grupo social, que tenha interesses de outro tipo, mas que topam gerenciar os negócios alheios.

Ao que tudo indica, os próximos quatro anos serão bem diferentes dos 12 anos anteriores. Provavelmente, a oposição social a um projeto redistributivo intergeracional está mais forte, mais organizada, pois agora identificaram um ator com capacidade mínima de liderá-la. Acrescente-se a isso certas mudanças de humor em relação ao estatismo em todos os lados e às formas com que o Estado se relaciona com a sociedade (divisão esta artificial, é claro): falta de participação popular na formulação das políticas públicas, à tendência autoritária da burocracia estatal brasileira, entre outras. E podemos ter um cenário social e político do que virão a ser estes próximos quatro anos.

Mais uma vez o PMDB deve se sobressair. Costuma-se dizer que o PMDB é o partido indispensável para quem quer governar. Eu diria que também é para quem quer ser oposição hoje e situação amanhã. Muitos congressistas, muitos governadores, muitos prefeitos. De acordo com o incrível calendário eleitoral brasileiro, em 2016 teremos eleições novamente. Agora, para prefeitos. 

A dinâmica política deverá ser alterada, pois, como visto, o contexto está bem diferente. Isto tudo sem considerar explicitamente a inserção do Brasil no cenário internacional, que também está-se alterando.

Governo novo, o que poderá incluir um diferente arranjo organizacional para o governo federal.

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