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Eleições 2014 – breve crônica de 12 anos de Brasília (parte 1 de ?)



Em 2002 Wagner Martins, atualmente na Fiocruz Brasília, convidou-me para ajuda-lo a organizar uma “sala de situação” do PROFAE (Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem). Aceitei.

Era a segunda vez que saia do Rio de Janeiro, minha terra-natal, para trabalhar em outro lugar: já trabalhara em Itararé (interior de SP) e em Eunápolis (interior da BA), quando era profissional da empresa Nativa Engenharia S.A., em 1989, se não me falha a memória.
Cheguei em Brasília no final do governo FHC. Serra já não era mais ministro e acompanhei a transição político-administrativa organizada pelo PSDB. 

Les Bleus vs Les rouge. Campanha presidencial: PT vs PSDB. Campanha a governador distrital (algo que, para mim, não faz sentido, dado que é um território federal, área de segurança, cujo perímetro deveria ser menor, etc e tal). 

Wagner, sua esposa Raquel e a pequenina Amanda me acolheram carinhosamente em sua casa. Eu ainda fumava e tentava faze-lo sem incomodar o que, obviamente, era impossível. Felizmente os três eram e são pessoas tolerantes com as fraquezas alheias.

Nas ruas do plano piloto, a disputa política difusa materializava-se em símbolos azuis e vermelhos: camisas, adesivos, flâmulas, tiras de plástico amarradas a antenas ou limpadores de para-brisas. Em nível federal, prevaleceu o vermelho, em nível distrital, azul.
No dia seguinte a minha descida no aeroporto JK, conheci a mulher com quem viria a me casar, ter dois lindos filhos e, em 2014, me separar. Processo, fluxo, mudanças.


Filhotes curtindo o fim-de-semana com o papai-babão na "casa de rio".


Doze anos com secas, chuvas, alegrias, tristezas, deslumbramentos e decepções. Doze anos depois, alguns calos a mais, mais cético talvez, em um processo de retorno crítico ao anarquismo dos meus 17 anos, agora mediado pela experiência como um esquerdista moderado; como “consultor internacional” sofredor das arbitrariedades da Receita Federal; como Mestre em saúde coletiva e doutorando em geografia; como estudante de Aikido e Arnis Kali; como pai; como marido; e, agora, como servidor público federal qualificado e mal remunerado; revivo o que vivi em 2002.

Os vermelhos versus Os azuis. Uma reprise com chance razoável de um desfecho diferente daquele que levou o primeiro nordestino, operário, líder sindical não-universitário, jogador de futebol e bebedor de cachaça, um não-burocrata público, à chefia do executivo federal por meio de eleição direta no Brasil.

Independentemente da vitória dos Azuis ou dos Vermelhos, o governo federal será outro em 2015. Se Dilma ganhar, será impossível manter o estado de coisas atual: estruturas e nomes mudarão. Se Aécio ganhar, o mesmo ocorrerá.

Exú e Oxumaré, alguns dizem, regem 2014 (ou influenciam fortemente). Ano de mudanças, de inflexões importantes. Tais mudanças podem significar mudanças em trajetórias ou apenas ajustes conjunturais ?
Parece-me que em todas as eleições, os eleitores ou votam pela “mudança”, ou, céticos, votam por votar. Sempre mudança. Sempre ceticismo. O recado está sendo dado há muito tempo: as formas com que a relação estado-sociedade-mercado se dá no Brasil já não satisfaz à maioria.

Isto é o que ninguém mais aguenta: clientelismo, patrimonialismo, insulamento burocrático, autoritarismo, falta de participação popular nas decisões políticas não-marginais (as que importam, o que é muitíssimo diferente de CONTROLE social), entre tantas outras coisas que nos formam e conformam há 500 anos.

Pois é... 

Do ponto-de-vista de minha biografia, 2014 é como o retorno a 2002. O eterno retorno do mesmo, mas sempre diferente.


“... as ações do homem são em geral eficazes em razão, de se adaptarem tanto aos fatos particulares que ele conhece quanto a um grande numero de outros fatos que não conhece nem pode conhecer. E essa adaptação às circunstâncias gerais que o cercam é fruto de sua observância de normas que ele não criou deliberadamente e, com frequência, sequer conhece explicitamente, embora seja capaz de respeitá-las na prática. Ou, em outras palavras, nossa adaptação ao meio não consiste apenas, e talvez nem mesmo principalmente, numa apreensão de relações de causa e efeito, mas também em serem nossas ações pautadas por normas adaptadas ao tipo de mundo em que vivemos, ou seja, a circunstancias de que não temos consciência e que, no entanto, determinam a configuração de nossas ações bem-sucedidas.” 

F.Hayek; Direito, legislação e liberdade; p.6.


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