Pular para o conteúdo principal

General Mourão e outros. O caráter autoritário da burocracia latino-americana.

      Peixe morre pela boca diz o velho deitado tomando sua cervejinha à beira-mar; não na prisão, vizinho do beira-mar.

     A rejeição a TrumpNaro; a existência botafoguense de TrumpGomes e, atualmente, a focalização sobre o Sr. Mourão, vice, dão-se em boa parte em função de uma característica comum: a verborragia reducionista e simplista.

     O simplismo reducionista dito aos quatro ventos denominamos, desde os manuais militares até Lênin e seu partido, agitação. Isso serve para comunicar pouco a muitos. Diferentemente da propaganda, onde se comunica muito a poucos. Se as informações e os conhecimentos transmitidos são corretos, é outra questão. Campanha eleitoral é isso, afora os acordos que ninguém explicita.
    O Sr. Mourão é um exemplo típico do que na literatura chamou-se de “tendência autoritária da burocracia latino-america” e nós, apesar de não nos importamos muito com os vizinhos e com o resto do mundo, somos latino-americanos. Sim. Servidor público é autoritário e o Sr. Mourão é um servidor público exemplar. O Estado é autoritário por definição. Não existe Estado “democrático”.

      Na semana passada, o candidato a vice de TrumpNaro falou sobre sua visão elitista, insulada, de elaboração de uma Constituição Federal ideal. Ele está errado. A revisão da CF/1988 para retirar dela seu populismo é tarefa para ontem. Nisso parte considerável da elite intelectual, política e econômica tem acordo. No entanto, o método dito pelo Sr. Mourão é anti-democrático, aristocrático, burocraticamente autoritário. 

      Isso não é totalmente estranho. Por exemplo, apesar de termos instrumentos de consulta direta à população, quando as elites burocrática e demais resolvem fazer um plebiscito para consultar toda sociedade, não cumprem a decisão da maioria, pois divergem dela. O que me faz imediatamente lembrar de Millôr: "democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim". Simples assim.

      Ontem (17/set/2018), o vice em questão disse que lares sem a figura paterna são o criadouro da marginalidade. Até onde me recordo, Lacan já havia nos alertado que a função paterna, a função de veto, não é exclusividade do homem; sempre há uma figura que veta, sempre há um que interdita.

    O bunker que guardava R$ 50 milhões na Bahia não era de alguéns que se enquadravam nessa visão. Os papéis moeda em cuecas, meias e malas indo e vindo em transações ilegais também não têm essa causa. O acharque não vêm de pessoas oriundas desta situação familiar original.

      É impossível afirmar que em parte dos lares brasileiros onde há membros envolvidos com crimes e violências não haja desestruturação familiar (qualquer que seja sua configuração). Casais onde a mulher engravida e depois é abandonada pelo progenitor; morte dos companheiros/maridos; distanciamentos; separações amigáveis. Tantas possibilidades envolvidas e nada aponta para relação CAUSAL da falta de homem na criação dos filhos determina marginalização dos mesmos.Se há correlação a pergunta deveria ser: por que as famílias desestruturam-se em nossa sociedade tutelada ?

      Peixe morre pela boca. Este vice está morrendo pelo que fala, assim como seu superior de chapa.

      Apenas chamo atenção das pessoas que tentam raciocinar seriamente para que tenham consciência de que é necessário ter um mínimo de conhecimento do perfil demográfico do país e de estatística para se afirmar coisas sobre causas possíveis de fenômenos sociais. Muito, muito do que se diz por aí, à esquerda e à direita, sobre causas de violência, inequidades, etc, não são verdadeiras. O que constitui desinformação, em nosso contexto atual, contra-informação baseada em ignorância conceitual ou desonestidade intelectual. Ambos a serviço de interesses políticos específicos quaisquer que sejam.

        Não é o caso do vice-general em questão, exemplo perfeito da tendência autoritária de nossa burocracia estatal e da gramática política que as elites brasileiras (topos das diversas pirâmides públicas e privadas) utilizam.

       Como se diz em São Cristovão, bairro onde passei minha adolescência: perdeu mais uma chance de ficar calado.




Leituras sugeridas







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AIKIDO, algumas palavras sobre (parte 1 de 2... por enquanto)

Sensei. Não significa exatamente professor, mas aquele que viveu o que você está vivendo, passou pelo que você já passou, que nasceu antes.      Após esses anos de estudo, ouso a refletir um pouco sobre Aikido. Reflexões essas que compartilho com meus amigos de estudo, minha esposa e meus filhos. Compartilho-as com vocês agora, de uma forma não muito sistemática, quase que aforística.         São pensamentos inconclusos, ainda estou estudando, sentindo. Reflexão 1         Aikido é uma arte marcial. Isso significa duas coisas basicamente: é arte, em sendo arte, tem que ser sentido como belo. A estética dos movimentos importa; por outro lado, a estética não é um fim em sim mesmo, ela só tem sentido, se complementar a marcialidade, a anulação do movimento agressivo inicial. Shikanai Sensei sempre fala que no treino de Aikido, o movimento feito entre os parceiros tem que "encaixar"....

KARAMBIT - faca garra de tigre

Arnis Kali, Eskrima ou FMA possui uma concepção do ensino de técnicas de combate (auto-defesa) que se difere de parte significativa do que denominamos Artes Marciais. Parte-se da premissa de que um combate inicia-se armado, não desarmado. Numa distância relativamente longa. Pensando-se em termos de pré-pólvora, teríamos uma sequencia lógica de combate, que pode ser pensado em termos de infantaria: arco-e-flecha (ou besta); lança; espada; facas; mãos nuas, por fim. As técnicas de mãos nuas (agarramentos, torções, estrangulamentos e projeções) seria o último recurso entre oponentes que tentam resolver seus conflitos de forma violenta e armada. Não se iniciaria com chutes e socos, muito menos com agarramentos, mas, sim tentando acabar com o conflito de forma rápida e preservando-se ao máximo a própria integridade física. Num combate atual, teríamos a distância máxima sendo conseguida por meio dos mísseis, aviões, helicópteros, fuzis, metralhadoras, revólveres, só a partir daí, a...

Monopólio... Monopólio de vidas artificiais...

Eis três bons materiais para assistir com calma. Depois, pensar e, quiçá, agir. 1) O mundo segundo a Monsanto.   Noventa por cento da vida transgênica pertence à Monsanto, inclusive boa parte de nossa soja.... Soja ajuda a destruir o Cerrado e a Floresta Amazônica:  http://www.youtube.com/watch?v=gE_yIfkR88M 2)   A luta contra os agrotóxicos e transgênicos: impactos e perspectivas:   http://www.youtube.com/watch?v=gz9hfTagO7M 3) Resistência ao Transgênico, no Paraná :  http://www.mst.org.br/node/15676 4)  É possível pensar em mudança paradigmática na economia ?  :    http://www.youtube.com/watch?v=hGxG5DZjJfs