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Um pré-marxista, preso ao sistema ético familiar no carnaval de 2014

Pré-marxista, preso ao sistema ético familiar (Paulo Francis).

Esse foi um dos rótulos recebidos por um carioca nascido em 16/08/1923 (um leonino). Pessoa de múltiplos talentos e um vasto e eclético conhecimento.

Autor de sínteses impressionantes, como "Uma imagem vale mais do que mil palavras !  Vai dizer isso numa imagem !!"

 
Millor Fernandes foi um dos autores que tomei contato no Colégio, graças a algumas excelentes professoras de português que tive na Escola Portugal e no Colégio Estadual Olavo Bilac, ambos em São Cristovão: a coleção "Para gostar de ler" fazia parte de nosso curriculo de estudos e gigantes como Veríssimo, Millor e Fernando Sabino cairam em meu colo, a frente de meus olhos.



Autor de crônicas fantásticas; de um humor ácido; tradutor de Shakespeare, incluindo trocadilho; oponente cruel de críticas vindas de pessoas que ele considerava sem consistência intelectual para fazê-las a ninguém.

Um exemplo, em relação a JK e Brasília: “Como é que se faz uma cidade em cinco anos num Estado democrático? Corrompendo todo mundo, é evidente. Uma corrupção avassaladora. O dinheiro que se gastou lá… Outra coisa: não vejo estrada de ferro no Brasil. Não tem uma estrada de ferro daqui para São Paulo! Trem pra Brasília. Acho ele um atraso. Você acha que a revolução demoraria 15 anos se a capital fosse no Rio de Janeiro?”.

Haveria manifestações, black blocs, e outras coisas mais, se em 2014 não fosse a Copa, mas Brasília ?

Ontem, em plena segunda de carnaval em Março de 20014, antes de minha querida Portela entrar na Avenida, a TV Cultura brindou algumas pessoas sortudas, inclusive eu, com a reapresentação de uma das raras entrevistas dadas por Millor à televisão, meses antes das eleições de 1989.

Muito bom, tanto pelo conteúdo, quanto pela forma.


Eis a entrevista completa de Millor no programa Roda Viva da TV Cultura, ri muito, muito ontem à noite. Na verdade, quando declarei minha saudade de Roberto Campos e Paulo Francis, deveria ter incluído Millor.

Parte 1 da entrevista de Millor no Roda Viva de 1989: http://www.youtube.com/watch?v=ylPkFIwS29k

Parte 2 da entrevista: http://www.youtube.com/watch?v=6m0heyPiLoA

Deixou-nos Millor em 27/03/2012.




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O Rei dos Animais - Fábulas fabulosas, 1964.
Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!".

Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?".

Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.

Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".

MORAL: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.


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